quinta-feira, 4 de junho de 2009

O designer da linguagem

Em seu “Eupoema”, o estudioso Décio Pignatari anuncia, “Não sou quem escreve, mas sim o que escrevo: Algures. Alguém são ecos do enlevo”...Seu poema pode ser lido junto aos ecos alcançados por seu pensamento mundo afora. Mundos de ontem e de hoje. Desde quando lançou seu primeiro livro de poesias, “Carrossel”, passando pelos seus escritos na revista ‘Noigandres’ - ainda na década de 50 ao lado dos irmãos concretistas Augusto e Haroldo de Campos; chegando aos dias de hoje, quando Décio, aos 81 anos de vida se dedica aos estudos da semiótica e se alegra ao ver chegar nas prateleiras brasileiras a obra “Bili com Limão Verde na Mão”, escrita para o público infanto-juvenil. Convidado para a Semana de Humanidades da UFRN, o escritor, tradutor e poeta conversou com o VIVER horas antes de sua palestra, com a voz um pouco cansada mas com a energia de um menino. Falou sobre a trilogia que está escrevendo – uma delas com a história das cartas de Nísia Floresta e Augusto Comte -, e fez crítica à ausência de qualidade na literatura contemporânea brasileira.Em seu olhar caleidoscópio sobre o mundo, o poeta e cientista acredita que as ciências humanas precisam beber nas fontes das ciências exatas e tecnológicas na tentativa de consertar o erro instalado por anos a fio na história da academia. Para ele, existe uma ausência na formação do professor de literatura e de artes quando precisam analisar obras. “Existe um isolamento da área de humanas em relação ao universo lógico. Não é que o professor precise entender matemática, mas ter acesso a outras informações para compor sua sabedoria”, disse .Mesmo hoje em dia preferindo a música no lugar da leitura, sua inquietação diante das ciências humanas alcança um pensamento bombástico. Para ele, a humanidade está fragilizada com a tecnologia e a literatura está desaparecendo. “Tanto o romance como a poesia estão desaparecendo em qualidade. E o ciclo do verso está chegando ao fim. O verso hoje é um fóssil”.Suas palavras soam como um grito debaixo de seus olhos já frágeis pela idade. E ele acrescenta que a mudança brusca da tecnologia atinge diretamente a arte. “Estamos numa fase de imensas mutações. Hoje os prosadores brasileiros escrevem iguais. Não existe um estudo, uma teoria, uma direção lógica para a produção literária. O estímulo geral hoje na literatura é o mercadológico. Poesia está fora disso, pois a poesia contraria a lógica e sinceramente ninguém lê poesia, mas isso é outro assunto”, disparou. Em seu discurso, o concretismo foi a única revolução internacional nascida no Brasil. Ele que hoje não escreve mais poesia mas fez parte do nascimento do poema concreto, faz questão de abraçar o silêncio para se abrigar dessa loucura transmutável em que se transformou o mundo. “Estou (des) crevendo para esquecer”, disse Décio lembrando que hoje ele escreve sim, mas escreve em seu caderno de bordo, uma espécie de diário de ideias e faz no máximo um poema com três linhas, tão raros quanto o próprio escritor.
Leia a Entrevista em:
http://tribunadonorte.com.br/noticias/111414.html