Lisboa, 28 jan (Lusa) – Os desafios colocados pela tradução da aparentemente simples poesia de Sophia e aqueles que se lhe colocaram ao traduzir “Hamlet”, de Shakespeare, foram um dos temas abordados hoje no Colóquio Internacional dedicado à poeta.
A abrir o segundo e último dia do colóquio que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a intervenção do tradutor norte-americano de Sophia (1919-2004), Alexis Levitin, que a descreveu como a poeta da “nitidez” e falou da dificuldade de traduzi-la com transparência, da procura da palavra exata – que era uma busca com que a própria Sophia também se confrontava ao escrever – para não escamotear o sentido, da métrica e da música, às vezes até de “uma rima para conseguir uma forma justa”.
A professora universitária Teresa Amado - uma das comissárias da exposição sobre a vida e obra de Sophia organizada com materiais do espólio, doado pelos cinco filhos da poeta à Biblioteca Nacional, onde estará patente até 30 de abril – abordou um aspeto talvez menos conhecido do trabalho da escritora: a tradução que esta fez do “Hamlet”, de William Shakespeare, “feita e repetidamente revista ao longo de um vasto período”.
Na sua comunicação, intitulada “Traduzir com música e paixão”, Teresa Amado leu reflexões da própria Sophia sobre a tradução, que ela classificava como “uma empresa que só pode deixar insatisfeito quem a ela se aventurou”.
Sophia queixava-se da “impossibilidade de traduzir a aura específica da escrita shakespeariana, o seu brilho obscuro” e, referindo-se em concreto a “Hamlet”, escreveu ainda: “É o mundo mais desesperado e mais sinistro de toda a literatura”.
“O local fulcral em que Sophia encontra Shakespeare é na poesia”, defendeu a professora, apresentando vários exemplos de versos ainda de “Hamlet” em que ela conseguiu encontrar as tais palavras exatas, embora a forma nem sempre obedecesse ao original.
Apontou ainda três casos em que, ao traduzir, Sophia citou Camões: duas citações literais e uma musical.
Em seguida, foi a vez de Michel Chandeigne, tradutor de Sophia para francês, fundador da Livraria Portuguesa e Brasileira de Paris e das Edições Chandeigne, principalmente dedicadas ao universo lusófono, falar de “Sophia em França”, cuja obra foi sempre muito bem recebida desde que começou a ser aí publicada, em 1980, pelas edições La Différence, dirigidas por Joaquim Vital, que classificou como “o grande artesão da sua divulgação”, responsável pelo facto de Sophia “ter hoje encontrado o seu público francófono”.
O primeiro Colóquio Internacional Sophia de Mello Breyner Andresen, promovido por Maria Andresen de Sousa Tavares, filha da poeta e ela própria poeta, em colaboração com o Centro Nacional de Cultura, que reuniu durante dois dias em Lisboa cerca de 40 investigadores, poetas e ensaístas portugueses e estrangeiros, termina hoje ao fim da tarde com uma mesa-redonda de poetas moderada por outro dos filhos de Sophia, Miguel Sousa Tavares.
Nela participarão Ana Luísa Amaral, António Osório, Armando Silva Carvalho, Gastão Cruz, Luís Quintais e Nuno Júdice.
No final da sessão, será ainda apresentado o número de janeiro da revista Colóquio/Letras, da Gulbenkian, que é parcialmente dedicado a Sophia.
Lusa