O destaque do país no cenário internacional, a expectativa do aumento do volume de negócios com a proximidade da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos e a falta de gente com formação e experiência técnica têm feito com que os bons tradutores sejam disputados e valorizados nas companhias especializadas.
De acordo com dados da empresa americana de pesquisa Common Sense Advisory, que faz levantamentos periódicos sobre o mercado de tradução em todo o mundo, no Brasil, a expectativa é de que os negócios cresçam acima da média global em 2011, que atualmente é de 13% ao ano. "O mercado brasileiro ainda está longe de atingir o seu auge", afirma Don de Palma, Chief Research Officer da empresa. O desafio para as companhias de tradução, segundo ele, será combinar investimentos em tecnologia e capital humano para sustentar esse crescimento.
Para Ricardo Schmitman, sócio da BCI Traduções, o grande nicho de mercado para os profissionais são as traduções especializadas. Com bancos e instituições de mercado financeiro representando a grande maioria do clientes, a empresa contabilizou um aumento de 46% em seu faturamento em 2010. O crescimento trouxe demanda por tradutores -e valorização dos salários desses profissionais. "São pessoas que precisam ser literalmente garimpadas, pois devem ter experiência no mercado para o qual vão traduzir, além de um profundo conhecimento do idioma", afirma.
O profissional mais comum, segundo Schmitman, tem graduação específica- as mais desejadas nos serviços para o mercado financeiro são na área de direito, economia e engenharia - ou experiência em empresas do setor. No entanto, não existe uma formação ideal para um bom tradutor, nem mesmo os cursos de letras ou tradução e interpretação. "Em tese, qualquer um pode ser tradutor, independentemente da formação acadêmica", diz Maria Luiza Brilhante de Brito, diretora do curso de especialização de tradutores DBB.
No mercado desde 1989 oferecendo treinamentos para tradutores, ela afirma que, mesmo com o ensino teórico, o que forma um bom profissional é a prática.
A tradutora Maria Cristina Vondrak é um exemplo. Formada em economia, ela trabalhou na área financeira em empresas americanas, voltou ao Brasil para atuar em uma consultoria de recursos humanos, mas acabou se especializando em tradução de textos em inglês para o mercado financeiro. Depois de 25 anos como executiva, a mudança de carreira foi motivada pela busca por qualidade de vida. "Tenho autonomia e posso trabalhar em casa. O volume de trabalho até aumentou, mas escolho clientes e faço meu horário."
A aposta deu retorno. Maria Cristina conta que sua remuneração como tradutora, depois de 15 anos de mercado, é a mesma de um alto executivo.
Ricardo Schmitman, da BCI Traduções, afirma, porém, que a média salarial de um bom tradutor, com experiência e especialização, pode variar entre R$ 8mil e R$ 10 mil.
A qualidade de vida, no entanto, é apenas uma parte positiva da rotina de um tradutor, que é bem diferente do dia a dia de um executivo de uma empresa.
Ulisses Wehby, sócio da Tecla Sap, empresa especializada em tradução simultânea, conta que a maioria dos profissionais são autônomos, o que significa não ter garantia de emprego.
Mesmo em tempos de mercado aquecido, os trabalhos são sazonais. "Já tive oportunidade de fazer três eventos em um dia. Em outros momentos, passei semanas sem trabalhar", conta.
A entrada de jovens intérpretes, sem experiência nesse mercado, é problemática, segundo ele. "São pessoas que, para ganhar competitividade, chegam a cobrar 20% a 30% menos que um profissional qualificado pede".
Mas esses profissionais serão necessários para atender a grande demanda prevista para os próximos anos, principalmente para os eventos esportivos que o Brasil sediará. Fabiano Cid, diretor executivo da Ccaps, empresa de tradução, afirma que uma dica para os jovens é investir em uma área de especialização. "Não adianta tentar ser generalista para ganhar mais".
Thiana Donato, diretora da All Tasks, empresa de tradução com uma equipe de quase 400 pessoas, afirma estar preocupada com o crescimento da procura no futuro. "Já começamos a receber grandes projetos desde o ano passado relacionados à Copa e Olimpíada. Estamos prevendo uma necessidade de intérprete que não será suprida", diz.
A demanda, segundo, ela, será para todos os idiomas. A All Tasks, que entrou no mercado oferecendo serviços de tradução para 26 línguas, hoje traduz para aproximadamente 30 idiomas. Embora o inglês e o espanhol sejam responsáveis pela maior parte da procura, a diretora acredita que o chinês deve entrar com mais força nos serviços das empresas para os próximos anos. No entanto, essa ainda é só uma expectativa.
Vívian Soares, de São Paulo