Uma "Antologia de Contos Angolanos" de 39 narradores traduzida para espanhol foi lançada no domingo, na Fortaleza de San Carlos de la Cabaña, em Havana.
Publicado com a chancela cubana da Editorial Arte e Literatura, na colecção Orbis, no âmbito da 20ª edição da Feira Internacional do Livro de Havana, que decorre de 10 a 20 deste mês, o livro reúne, nas suas 239 páginas, contos de escritores relevantes no panorama literário angolano, por abarcarem um amplo espectro generalizado e demonstrarem a existência de uma cultura sólida, expoente da indiscutível identidade cultural.
Entre os autores constam nomes como Agostinho Neto (Naúsea), Arnaldo Santos (La liberación de los hombres-jinzéu), Boaventura Cardoso (El gavilán vino del sur y…!pum!), Cornelio Caley (La rueda de Tchingadu), Costa Andrade (La planta decorativa), David Mestre (El reloj de bolsillo), Jofre Rocha (El drama de Vavó Tutúri), Manuel Rui (La caja de cerveza), Ondjaki (La bosla va lejos), Óscar Ribas (El alma), Pepetela (Extraños pájaros de alas abiertas), Raul David (Dramas de las tierras de cultivo) e Uanhenga Xitu (Solo entre mujeres).
Na apresentação da obra, António Fonseca, director do Instituto Nacional das Indústrias Culturais, escreve que a selecção de contos foi feita para dar a conhecer a literatura angolana aos "irmãos" cubanos. "Este é o género narrativo que melhor corresponde à prática da ancestralidade oral e é o de mais ampla utilização na literatura tradicional", acrescentando que a narrativa "é mais fácil aos leitores cubanos no processo de comunicação, recepção e descodificação da mensagem". Na ocasião, o adido cultural da Embaixada de Angola em Cuba, António Gonçalves, disse não ser novidade que a narrativa, mais exactamente o conto, é a arte literária mais representativa do continente africano, pelo que, no caso de Angola, a narração surge com o livro "Nga Muturi", publicado por Alfredo Troni, em 1882. "Nga Muturi’ saiu a público em Lisboa, publicado pelo jornal "Diário da Manhã" em forma de folhetim; contendo sete capítulos e com 30 páginas aproximadamente. É pois evidente que em 2012 estaremos a celebrar o 130º aniversário do surgimento da narrativa em Angola", disse o também escritor, sublinhado que em 2014 Angola celebrará 165 anos de existência da poesia escrita em língua portuguesa.
Referiu que a narrativa angolano viria a consolidar-se com a publicação de dois livros: "Segredo da Morta", romance de costumes angolanos, de António de Assis Júnior (1935), e "Uanga" (Feitiço), romance folclórico de Óscar Ribas (1951). Segundo António Gonçalves, as grandes referências da narrativa angolana moderna deram-se a conhecer nas décadas de 60, 70 e 80, com Luandino Vieira ("A Cidade e a Infância"), Pepetela "As Aventuras de Ngunga" (1973) e Manuel Rui "Quem me dera ser Onda" (1982).
Para a estudiosa cubana Dominica Diez, que fez a tradução da obra, assumir a tradução da antologia – sem ser um lugar-comum – foi uma grande responsabilidade, entre outras coisas, pelo curto espaço de tempo de três meses que teve para traduzir os contos e pelo prestígio literário dos autores da antologia, que são merecedores de uma cuidadosa interpretação das suas obras.
Referiu que para isso foi necessário incrementar a busca de soluções alternativas devido à abundância de termos em língua nativa africana, que não são do seu domínio, pelo que contou com o apoio, entre outros, de António Fonseca, António Gonçalves, Dina Sarracino Rivero, e dos estudantes angolanos do Instituto Superior de Artes cubano (ISA), Emanuel Mendes, Bruno Manuel Neto, Gomes Domingos e Armando Zibumgana.
A cerimónia de lançamento da "Antologia de Contos Angolanos", que coincidiu com a apresentação pelo linguista e tradutor cubano, Rodolfo Alpizar, do livro "Jaime Bunda, o Agente Segredo", de Petelela, em espanhol, foi presidida pelos ministros da Cultura de Angola e de Cuba, Rosa Cruz e Silva e Abel Prieto Jiménez, respectivamente.
Os dois governantes mostraram interesse na publicação de obras literárias de autores dos dois países traduzidas quer em português quer em espanhol.
Ontem, foi ainda lançada uma outra obra de autoria angolana, traduzida em espanhol. Trata-se do livro "As aventura de Ngunga", de Petetela, primeiro escritor angolano agraciado com o Prémio Camões e autor de uma vasta obra, com destaque para "Mayombe", "Yaka", "O Cão e os Calus", "Lueji" e "A Geração da Utopia".
Último dia da visita
A delegação cultural angolana, chefiada pela titular da pasta, Rosa Cruz e Silva, termina hoje a sua visita de seis dias a Cuba, no âmbito do reforça da cooperação entre os dois países no domínio da Cultura.
Antes de deixar o país, a delegação angolana tem, no período da manhã, um encontro com o historiador de Havana, Eusebio Leal Spengler, e vai assinar o suplemento de actualização do acordo bilateral. Depois, na altura da partida, terá uma cerimónia despedida no aeroporto José Martí, presidida pelo vice-ministro da cultura cubana, Rafael Bernal
Domingo, a comitiva angolana visitou o projecto cultural comunitário "Cabildo Quissicuaba", no centro de Havana, dedicado ao desenvolvimento cultural das comunidades mais carenciadas. Segundo o seu presidente, Enrique Alemán Gutierrez, o projecto trabalha com crianças, idosos, reclusos, toxicodependentes e doentes com sida, com vista à sua reinserção na sociedade.