quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Da Arte da tradução como tarefa impossível

A Mulher dos Cinco Elefantes. Eis um documentário "pequeno", com um personagem discreto e, pela forma como é feito, revela-se grande. O filme de Vadim Jendreyko destaca uma figura quase sempre habitante da penumbra, um tradutor. Ou melhor, uma tradutora.

Quem é ela? Swetlana Geir, 85 anos, considerada a maior tradutora da literatura russa para o alemão. Acompanhamos um pouco o seu trabalho. Ela conta com a ajuda de outra mulher, mais ou menos da sua idade, que datilografa as frases à medida que Swetlana as vai traduzindo. Discutem alguns pontos, lá e cá. Afinal, ela é russa, aliás, ucraniana, e, por mais que conheça o alemão, deve atender os conselhos de quem tem o idioma de Goethe como língua materna.

O trabalho passa por um segundo pente fino. Swetlana lê o texto para um especialista em sonoridade do idioma alemão para ver se a frase mantém a musicalidade do original. Ou se consegue se aproximar o máximo possível do que foi escrito no original. Pois toda tradução, no fundo, é um trabalho impossível. Cada idioma tem sua particularidade, sua personalidade, sua música, traz embutida em si uma cultura e visão de mundo; por isso, é, no limite, intraduzível.

Certo, Mas o que seria de nós se alguém não nos houvesse franqueado, mesmo com essas limitações, o mundo de Dostoievski, Chekhov, Gogol, Turgeniev?

Luiz Zanin Oricchio - O Estado de S.Paulo