segunda-feira, 13 de julho de 2009

O espírito de uma época

Para ser poeta, é preciso ser mais que poeta. A máxima do poeta curitibano Paulo Leminski descreve bem a atuação de Haroldo de Campos. Suas contribuições para o cenário cultural brasileiro vão além dos poemas e das teorizações acerca do fazer poético.Os indícios deste homem de muitas artes, um polígrafo, para usar uma palavra quase em desuso, são encontrados em “Inteligência Brasileira: uma reflexão cartesiana”, livro do filósofo alemão Max Bense. Publicado na Alemanha em 1965, e até então inédito em português, o ensaio de Bense é uma tentativa de interpretação do ambiente cultural brasileiro, conhecido pelo autor em quatro viagens ao País que realizou nos anos 1960.O itinerário começa com o poeta: foi no final de 1959, que Max Bense conheceu Haroldo de Campos. O filósofo recebeu uma carta, redigida em francês, onde o poeta se apresentava como amigo de Eugen Gomringer, escritor suíço-boliviano, ligado ao alemão. O brasileiro solicitava um encontro, para apresentar a poesia concreta do grupo Noigandres. A trocar idéias trouxe benefícios para os dois lados: por um lado, Bense ajudou na internacionalização do movimento concreto e colaborou com as discussões acerca do design e da poesia visual, de autores próximos dos irmãos Campos. Por sua vez, o poeta introduziu no País as idéias de Bense, tornando-se seu primeiro tradutor.Dialética“Inteligência Brasileira” é uma ensaio breve, que se estrutura a partir de teses breves e numeradas. Neste sentido, remete ao estilo preciso, apesar de um tanto “poéticos”, de outros alemães, caso de Friedrich Nietzsche e Walter Benjamin, e do austríaco Ludwig Wittgenstein. Baseado no cenário progressista que encontrou aqui (Poesia Concreta, fundação da Escola de Desenho Industrial da Guanabara, a construção de Brasília), a tese central de Bense é que o Brasil seria dotado um espírito cartesiano, em interação dialética nossa passionalidade tropical. (DR)
Leia mais

Diário do Nordeste 11.07.09